Fakes readymades
‍
Não sei se foi o Marcel Duchamp quem cunhou a expressão 'readymade'. Mas pelo menos, foi ele quem levou este termo para o mundo das artes, junto com outros artistas Dadaístas. O 'encontrado pronto'.
‍
Nem sempre o acaso proporciona esses achados significativos, obras de arte que são encontradas no estado de estarem prontas para saírem da rua e passarem a viver no universo das artes, galerias, museus, instituições de arte, e na casa das pessoas. Obras onde a mão do artista, e o olho, claro, só foram necessários para reconhecê-las e recolhê-las. E para re-significá-las.
‍
Uma forma de recolher informações dessa natureza, é a fotografia. Como nunca tive a sorte de encontrar essas preciosidades, e não sendo fotógrafo, tive que recorrer a outros métodos. Depois de muitos anos trabalhando como art director e designer gráfico, adquiri uma certa intimidade com o processo de trabalhar imagens digitalmente.
‍
Foi aí que surgiu a ideia de forçar o encontro com imagens raras... e comecei a fazer 'fakes readymades'. Comecei a construir coisas que eu adoraria ter encontrado por acaso. E assim surgiram os dois painéis que mostro na Luka Art Gallery, no Palácio Biester, em Sintra. Assim encontrei o mapa-mundi que 'alguém' fez sobre a forma descascada do reboco de um muro. E assim me deparei com uma menina que interferia numa interferência... 'alguém' pintou num muro, a sala vazia da Santa Ceia. E uma menina achou que aquilo esta vazio demais e resolveu interferir. Eu só 'recolhi' essas imagens, e ampliei-as.
‍
Da mesma forma, as imagens em P&B que 'encontrei' em Portugal. O vazio e o silêncio da noite antes da pandemia ter decretado essas noites desertas.  Foi quase uma premonição do que viria.
‍
Hoje, ao dividir o salão e salas da Luka Art Gallery com um consagrado artista contemporâneo português, o RAF, vejo alguns pontos de diálogo. A arte urbana é fruto essencialmente da criatividade, da ousadia, e da coragem. É uma arte que transforma espaços. Cria outros universos. É uma arte de intervenção. Uma arte de atitude que atua em espaços públicos, mas que hoje traz o seu esplendor para o esplendoroso Palácio Biester. É uma forma de trazer para dentro, coisas estavam lá fora. Que é mais ou menos o que tentei fazer.
‍
Luis Christello